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domingo, 22 de agosto de 2010

Luiz Marenco - De Alma, Campo e Silêncio

De Alma, Campo e Silêncio

Noite de campo que vejo numa lembrança de outr'ora
Beira de um fogo que acalma, triste cambona que chora
Alma povoada em silêncio deste meu rancho fronteiro
Mateando alguma saudade costeando o sono da espora

Vento que geme na quincha feito um basto na estrada
Resmunga o som de tesoura do picumã amorenada
Quem sabe traga de arrasto alguma manga pras casa
E um cheiro bruto de terra pra envadir a madrugada

Noite que chora pro campo tocando a tropa na sanga
Batiza os lábios da china num galho flôr de pitanga
Somente o sonho que cresce num distanciar de povoeiro
Que parte junto com a aguada pra alguém que vive de changa

E a primavera se estende com olhos claros pra lida
Bolear a perna na estancia, este é meu rumo na vida
Solito eu cruzo as horas num camperear de invernada
De rédea firme por diante com alguma mágoa contida



Luiz Marenco - De a Cavalo

Tenho a vida de a cavalo
entre alegrias e penas
por andejar campo afora
mudei a cor das melenas
semeando tombos de pealos
de Cerro Largo a Bolena

Marcas de laços e guampas
bordadas no tirador
despertei risos nas chinas
por guitarreiro e cantor
abri janelas de ranchos
nas dobras do corredor

Das Palmas ao Jaguarão
conheço sangas e grotas
do Camaquã ao São Luiz
dos Três Cerros ao Candiota
gastei o aço do estrivo
na curvatura das botas

Já pisei cada coxilha
deste meu pago fronteiro
de Santas Tecla a Aceguá
formei o tino campeiro
fui peleador e ginete
nas festas de Vichadero

Enredei crinas nos dedos,
nos dois lados da fronteira
domei potradas velhacas
uruguaias, brasileiras
e andei parando matreiros
nas sogas das boleadeiras

Nas tropilhas das estâncias
andam pingos no meu freio
são cavalos pra quem sabe
o que fazer sobre os arreios
destes que cincham sozinhos
num serviço de rodeio

De a Cavalo

Empurrei miles de bois
em pingos de cola atada
nas tropas pra São Domingas
que vinham cheirando a estrada
e silenciaram pra sempre
na marreta das charqueadas

Por onde desensilhei
nos mais crioulos rincões
deixei cantigas de espora
no chão duro dos galpões
e floreios de cordeonas
entre os mates dos fogões