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quinta-feira, 9 de junho de 2011

Cenair Maicá - Balaio, Lança e Taquara

Balaio, Lança e Taquara

Caminham guaranis pelas estradas
Trapos de gente se arrastando a pé
Restos da raça dos meus sete povos
Últimas crias do sangue de Sepé.
Fazem balaios de taquaras bravas
Em pobres ranchos que parecem ninhos
Onde se abrigam aves migratórias
A mendigar alguns mil réis pelos caminhos.

O balaio foi taquara, a taquara foi a lança
O balaio foi taquara, a taquara foi a lança,
Que esteiou os sete povos quando o pago era criança
Vão os índios pela estrada como aguapé pelos rios
Cantam ventos tristes nos seus balaios vazios,
Cantam ventos tristes nos seus balaios vazios.

Seguem os índios o destino peregrinos dos sem terras
Tropeçando nos caminhos já sem luz
Afogados na fumaça do progresso
Junto aos animais em debandada.
Das florestas virgens violentadas
Pelos que vieram pelos que vieram sob o símbolo da cruz.

Quem os vê na humildade dos perdidos
Na senda amarga desses tempos novos
Não acredita que seu braço um dia
Levantou catedrais nos 7 povos
Vende balaio o índio que plantava
Um novo mundo no império das missões
Balaios de taquara que eram lanças
Marcando a história das 7 reduções.


Cenair Maicá - Baile do Sapucay

Baile do Sapucay

Neste compasso da gaita do sapucay
Se bailava a noite inteira lá na costa do Uruguai
Luz de candeeiro e o cheiro da polvadeira
Hermanava castelhanos e brasileiros na fronteira

Choram as primas no compasso do bordão
E o guitarreiro canta toda a inspiração
E a cordeona num soluço refrexando
Marca o compasso do posteiro sapateando

Neste compasso da gaita do sapucay
Se arrastava alpargatas lá na costa do Uruguai
Chinas faceiras de um jeito provocador
Vão sarandeando, é um convite para o amor
levanta a poeira do sarandeio da china
Recendendo a querosene com cheiro de brilhantina

Neste compasso da gaita do sapucay
O mandico se alegrava lá na costa do Uruguai
Até a guarda costeira se esqueceu do contrabando
E o sapucay chegava a tocar babando
E a gaita velha da baba do sapucay
Chegou apodrecer o fole neste faz que vai não vai

São duas pátrias festejando nesta dança
Repartindo a mesma herança, comungando a mesma rima
Disse o Sindinho que o Uruguai deixa os nubentes
Une o casal continente, pai Brasil mãe Argentina
E disse o poeta que o lendário rio corrente
Une o casal continente, pai Brasil mãe Argentina

Francisco Vargas - Sinto Orgulho de Ser Grosso

Sinto Orgulho de Ser Grosso

Não como gato por lebre, não danço marcha por xote
Já deixei de ser boi manso só pra não pisar o cogote
De louco só tenho o gesto, de burro só tenho o trote
Tem mulher igual a cobra sempre pronta pra dar o bote
Não me casei sou amassiado
Também não fui batizado pelas mãos do sacerdote.

O mundo foi minha escola só nuca li o catecismo
Mas desenho a terra em rima nos versos do repentismo
Tem muito gaúcho gay, falando em regionalismo
De brinco, bombacha e tênis, criticando o nativismo
De brabo estou me mordendo
De roqueiros destorcendo nosso puro bagualismo.

Eu já fui apelidado macho da caranca feia
E nunca fui acertado por égua que se boleia
Matungo que nega estribo, sento o mango na orelha
Me escondo atrás do facão na cabo de uma peleia
Já rolei que nem cigano
Três ou quatro brigadiano não me levam pra cadeia.

Com minhas armas na mão com meia dúzia eu retoco
E já dei talho de palmo de ficar alumiando os osso
Reconheço que sou grosso, as palavras do Gildo endosso
Nativista e sertanejo metendo a mão no que é nosso
Artista nenhum invejo
E quando mais me farquejo, ai é que mais eu engrosso.

Francisco Vargas - Vermelho Cabeçudo

Vermelho Cabeçudo

Meu povão já está sabendo que eu sou grosso sem estudo
E fui muito criticado quando gravei o cuiudo -
Os puritanos do Rio Grande ficaram até carrancudo,
Mais no meu bolso eu botei um troco lindo e graúdo.
Deu pra comprar um puro sangue com jockei, cocheira e tudo
E a pão-de-ló é tratado
E por mim foi batizado de vermelho cabeçudo.

E quem montar no meu cavalo
Morre velho, não esquece
E é só enxergar mulher
Que o lombo do bicho endurece!

Com uma prenda na garupa ele sai troteando miúdo
Fica lerdo e desconfiado quando monta um cabeludo;
Até fala relinchando, não estorvo, nem te ajudo
E a eguada se apaixona da estampa do cruniúdo.
Quando passa pela rua mulherada param tudo
E uma magrinha de moto
Pediu pra tirar uma foto no lombo do cabeçudo.

Eu fui correr uma carreira comum fazendeiro papudo
E eu tinha um tordilho negro por apelido pacudo.
Rachei a cancha no meio e o velho ficou bicudo
Já quis comprar meu vermelho, me chamando de sortudo.
Quando eu vi entrou uns magrinhos parecido com os menudo
E um nativista de brinco
Ele e mais uns quatro ou cinco pra ginetear o cabeçudo.

Pra gente vencer na vida tem que ser meio carudo
Logo que eu vim da campanha me chamavam de bacudo.
Mais eu fui ficando esperto com promessas não em iludo
E esses dia eu vi um malandro levar uns quarenta cascudo,
Da sua própria mulher que lhe chamava de chifrudo.
Disse: - caco, tu me solta
Por que eu quero dar uma volta no lombo do cabeçudo.

Francisco Vargas - Tem Um Gato Me Tenteando

Tem Um Gato Me Tenteando

Deixei a velha campanha meus pais e irmãos chorando
De nojo da exploração do que o patrão tão pagando -
Ao chegar em Porto Alegre, logo eu fui me apavorando .
Dos bate em carteira pela ruas me tapando
E senti que uma mão boba no meu bolso vinha entrando
Já gritei desesperado: - Tem uma gato me tenteando

Falar em gato me tenteando
Me topei com um candidato
Numa véspera de eleição
Me encheu o bolso de retrato.
E o povo gritava em couro
Abra o olho com esse gato!

Na Voluntários da Pátria vi uma moça me chamando .
Com meia dúzia de papo num motel já fomos entrando .
Quando ela se pelou, eu também fui me pelando
Saltou de baixo da cama um negrão já se coçando
Me calçou num trinta e oito de lá eu saí voando
Já gritei desesperado: - Tem um gato me tenteando.

Na rodoviária em São Paulo, fiquei tempo admirando
Um vivo com três dedal e uma bolinha, brincando
Pra ver o jogo engraçado pra bem perto fui chegando
E uns quatro ou cinco "Hs" de mentirinha ganhando
E eu fiz que fui e não fui e os esperto me rondando
Já gritei desesperado: - Tem um gato me tenteando.

Na capital federal lá tive me apresentando
Até na casa da Dinda fiquei três dias cantando -
Lá vi o Collor de Mello com João Alves comentando
Que o "PC" era inocente e tinha alguém lhe caluniando
E eu saudei a "CPI" e foi só bicho brabulhando
Já gritei desesperado: - Outros gatos me tenteando.

Francisco Vargas - Sinto Orgulho do Que Sou

Sinto Orgulho do Que Sou

Patrício amigo permitas, que em rima digas quem sou;
Pois nesses versos eu vou desfazer as aparências
Ganhei do mundo experiência já que cresci sem estudo
Hoje eu sou um pouco de tudo que existe em nossa querência.

Sou laço em mãos de campeiro que em lida de campo é mestre
Eu sou a flor do campestre nas manhas de primavera
Sou um velho umbu de tapera, sou raça de um povo guapo
Herdei sangue farrapo de gerações de outras eras.

Eu sou a chama crioula que o tempo jamais apaga
Sou entrevero de adaga nos bolichos de campanha
Sou o velho frasco de canha, água benta que o gaúcho
Bebe pra agüentar o repuxo bebendo em querência estranha.

Sou rancho de pau a pique, sou ramada pra fandango
Sou boleadeira, sou mango, sou bota, espora e guaiaca
Sou lança revolver e faca, sou calmo me reconheço
Também depois que embrabeço nem tempestade me ataca.

Sou floreio de cordeona, sou chimarrão de erva boa
Sou o próprio pago em pessoa, ser justo o mundo me ensina
Lombo duro é minha sina, não dou nem quero conselho
Só vou curvar o joelho perante a força divina.

Francisco Vargas - Veneno de Sogra

Veneno de Sogra

Eu no verão canto lá na praia
E no inverno caio na farra -
A minha sogra é muito fofoqueira
Lá no meu rancho tá preta minha barra
Ela diz que tenho que pegar no pique
E tocou-lhe fogo na minha guitarra
Eu qualquer dia arrebento as maneias
E saio campo a fora esparramando as garras
Por eu viver de trova a cantoria
Ela me apelidou de Francisco cigarra.

Casa que eu morro é da minha sogra
A minha mulher é dela também -
Topei a bucha e fiquei quietinho
E me xingar direito ela não tem.
Morar com sogra nem o diabo gosta
Mas eu não posso me mudar também
Ela diz que morre e não me deixa nada
Vai dar pra filha tudo que ela tem
Eu não me importo, afinal de conta
Se a mulher é rica eu sou rico também.

Já descobri vou dar um jeito na velha
E já bem sei o jeito que vou dar -
Eu vou dizer pra ela que no inferno é bom
Que eu já falei com quem morou por lá.
Eu vou mentir que o diabo é um estancieiro
E que é solteiro e que quer se casar,
Lá tudo é rico e que ninguém trabalha,
A gente de cá tem que trabalhar...
A velha é ambiciosa e em tudo acredita
E eu iludo a bruxa até ela se matar.

Depois de morta pode ir até pro céu
Que eu fico na terra com o dinheiro dela
De dez em dez anos eu rezo uma missa
E nos finados eu acendo uma vela.
A esportiva que eu posso ganhar
E me livrando dessa tagarela
Daí então eu começo a estudar
Pra quando morrer dar uma de vivo nela
Se ela ir pro céu eu largo pro inferno
Só para não ter de me encontrar com ela.

Francisco Vargas - Velho Candeeiro

Velho Candeeiro

Morreu um boi e eu tirei a guela
Enchi de sebo do rim do campeiro
Botei pavio e fiz uma vela
Que na campanha se chama candeeiro
Sobre a carreta ilumina a panela
Onde eu preparo o velho carreteiro
Penduro ele sobre o recavém
O arroz seca eu ajeito o café
Candeeiro velho que clareia bem
Feito da guela dum boi jaguané
Tu já clareaste o rancho de alguém
De pau-a-pique, barro e Santa Fé
(De pau a pique, barro e Santa Fé)

O vento sopra e tu acende mais
Mostra a macega onde o bicho deitou
Foi lamparina dos meus ancestrais
Muitos fandangos tu também clareou
Os tempos idos te deixou pra trás
Porque a evolução nos iluminou
Lá na campanha não é mais usado
E a juventude até nem te conhece
Tareco velho num galpão guardado
Com o passar dos anos num canto apodrece
Por este poeta tu fostes lembrado
Faço a homenagem, o candeeiro merece
(Por este poeta tu fostes lembrado
Faço a homenagem, o candeeiro merece)

Te desprezaram rico traste antigo
Que no passado nos servistes tanto
Vim te provar que sou teu bom amigo
Em teu louvor esses versos que canto
Deixa o galpão, vem clarear meu jazigo
Quando eu partir lá pro campo santo
Não sou nervoso e nem sofro de trauma
Nas horas bravas eu sempre fui forte
Candeeiro velhor por favor te acalma
Tu não te apaga nem com o vento norte
Eu te escolhi pra iluminar minha alma
Quando chegar o dia da minha morte
(Eu te escolhi pra iluminar minha alma
Quando chegar o dia da minha morte)

Francisco Vargas - Tropeiro dos Pampas

Tropeiro dos Pampas

Um frasco de canha é minha água benta
Que eu encho de novo quando a pinga caba
E que da coragem quando a gente enfrenta
Um louro que avança espumando a baba.
Do meu doze braças por nada arrebenta
Nem com golpe forte de zebua brava
Meu estilo honra a raça dos Vargas
No meu chapéu preto de abas bem larga
Resguarda meu rosto com a sombra da aba.

Minha capa ideal que me ataca nos frios
Nem com tempestade a roupa ensopa
No lugar que eu passo se um baile surgir
Já pago minha entrada e vou direito a copa
Se a flor do fandango para mim sorrir
Já faço a proposta se acaso ela topa
Na anca do zaino um lugar ela ocupa
Já levanto a china linda na garupa
De madrugadita vou tocando a tropa.

Eu não tenho medo que façam espera
E até duvido que um macho me marca
E sendo preciso eu brigo com uma fera
Minha protetora minha santa Joanna D'arc
Meu cachorro titã o gado da tigüera
Não atraso a tropa pro dia do embarque
Nas horas de folga eu canto pra ela
Levando um amargo em roda da panela
Um bom carreteiro gostoso de charque.

No fogo de chão eu esquento a cambona
Já tomo um trago bem grande na guampa
Ao lado da prenda puxando acordeona
Em qualquer recanto um gaúcho se acampa
Dois pelegos grandes, a tarimba é a carona
Retrato do pago carrego na estampa
Quem mora lá fora conhece essa lida
Pois desde criança gostei desta vida
Depois me tornei um tropeiro dos pampas.

Francisco Vargas - Rei dos Baguais

Rei dos Baguais

Saí da campanha e me vim pra cidade
Assistir bem de perto o tal de carnaval
Fiquei encantado com tanta beleza
Eu nunca tinha visto uma coisa igual
Morena de anca bonita, faseira
Mexendo as cadeiras fora do normal
Fiquei quase louco, naquele sufoco
E gritei dalí um pouco:
Mas que china bagual!

Pra onde eu olhava era só requebrado
Alí no meu lado bem ao natural
E a mesma morena que estava me olhando
Vinha rebolando fora do normal
Pra quem é da guasca e não é acostumado
Aquele rebolado até fazia mal
Meu corpo suava e eu me desesperava
E bem alto eu gritava:
Mas que coisa bagual!

O tal topless me deixou escramusando
Fiquei me babando igual gado por sal
Nasci desse jeito meio abagualado
E assim fui criado sem freio e boçal
E no mexe mexe o tal remelexo
Eu batia queixo igual cobra coral
Naquela agonia e ela remexia
E pro povo eu dizia:
Mas que baile bagual!

Na alta madruga eu apavorado
Já quase pelado e o baile ao final
Invadi a quadra e a moça sambista
Era filha de um rico fulano de tal
Tentei lhe agarrar e ela meio pulou
E a polícia chegou e eu não me dei mal
Quadro soldados eu peleei folgado
E fui apelidado de rei dos bagual.

Francisco Vargas - Rei do Volante

Rei do Volante

O motorista companheiro amigo
Que no volante tu luta e forceja
Caminhoneiros deste mundo velho
Em qualquer canto que esta hora esteja
Vim te prestar uma simples homenagem
Junto a uma prece lá na santa igreja
Tua profissão eu respeito e louvo
E que são Cristóvão sempre te proteja.

Graças a Deus que já voltei de novo
Caminhoneiro a vida não é mansa
Mas esta noite vou dormir tranqüilo
Agarradinho na mãe das criança.

Peço as esposas dos caminhoneiros
As namoradas e as noivas também
Que rezem muito por estas soldados
Que estão peleando pelo mundo além.
Os mais antigos estão se aposentando
E os mais novos iniciando arecém
Sentem saudade da mãe e do pai
Eles só sabem a hora que saem
Mas desconhecem o dia que vem.

Às vezes o dia amanhece azarento
Que lê entristece e de viajar enjoa
Fura um pneu, até bate o motor,
Rebenta um eixo, pinhão e coroa.
A caixa quebra, lhe suja de óleo
Barro velho vermelho de chuva ou garoa
Vai levar as mãos bota fora aliança
E a mulher velha perde a confiança
E ele o carinho da velha patroa.

Uma boa viagem a todos os motoristas
Os caminhoneiros entreguem certo a carga
E os assaltantes nem lembram de vocês
E nunca mais passam horas amargas.
Tanto na ida, no pouso ou na vinda
Suas estradas sejam livres e largas
Tu é um rei e a cabine é o trono
Na noite longa pra espantar o sono
Escuta a fita do Francisco Vargas.

Francisco Vargas - O Valor Que A Mulher Tem

O Valor Que A Mulher Tem

Eva, primeira mulher, nunca traiu seu marido
Só pecou por que comeu o grande fruto proibido
Amélia, mulher de verdade morreu honrando o vestido
E de uma Santa mulher este poeta foi nascido.
Uma me cortou o umbigo
E eu não quero que ela diga que sou mal agradecido.

E quem falar das mulheres, pra nós não vale um vintém
Com sacrifício mostramos o valor que mulher tem -
E quem não gostar de mulher é bicha, corno, vagabundo,
Pra mim foi a melhor coisa que Deus botou neste mundo.

A fêmea, mulher e mãe, do nosso lar é a rainha
Braço forte no serviço, da sala até a cozinha -
Faz café, almoço, e janta tomam conta tudo sozinha
Ainda trabalham fora, mas sempre andando na linha.
Não existe mulher feia
E respeito as filha alheia porque estou criando as minhas.

Tem muito homem machistas, pra mulher não dão valor
Uns bundinhas da cidade metido a conquistador
Iludem uma pobre moça humilde do interior
Casam pra fazer sofrer tristeza, amargura e dor.
Seja macho e não maltrate
Porque em mulher não bate nem com chicote de flor.

Eu na cama sem mulher, me deito e não tenho sono
Sou um circo sem palhaço, sou campanha sem colono;
Sou rainha sem coroa, sou rei sem morar no trono,
Sou verão sem primavera, sou inverno sem outono;
Sou um prato sem talher
Todo o homem sem mulher e como um peca sem dono.

Francisco Vargas - Já Está Solto O Meu Cuiudo

Já Está Solto O Meu Cuiudo

Não chamei mulher de égua, cruz, credo Virgem Maria
Eu juro em nome daquela que me deu a luz do dia -
Só estou falando a verdade por que o meu pai não metia
Não ofendo o semelhante, nem uso demagogia.
Dos versos sou um escravo
E todas as letras que eu gravo é um manancial de grosseria.

Quem criticou os meus versos
É louco, grosso e sem estudo
Prendam a eguada de vocês
Que eu já soltei o meu cuiudo.

Um sujeito um conterrâneo, cheio de antepatia
Desses tipinho ordinário, tareco sem serventia -
Quis me intrigar com meu povo que adoram minha cantoria
Mais os meus fãs são sincero não entraram nessa fria.
Eu de vocês sou um escravo
E todas as letras que eu gravo é um manancial de grosseria.

Minha letra é pura e divina e não tem pornografia
E os versos de minha marca é um selo de garantia -
São simplezinhos mais tem bastante filosofia,
Chego as vezes andar embalado nos braços da nostalgia.
Do meu povão sou um escravo
E todas as letras que eu gravo é um manancial de grosseria.

O que eu mais gosto no mundo é de um verso de atrofia
E uma oito baixo roncando, moda estilo Tio Bilia -
Churrasco gordo e carreira e uma pingo na estravaria
E em vinte de setembro desfilar em Vacaria.
Do meu Rio Grande sou um escravo
E todas as letras que eu gravo é um manancial de grosseria.

Francisco Vargas - Homenagem ao Rei da Trova

Homenagem ao Rei da Trova

Pra saldar Gildo de Freitas
O mundo inteiro me escuta
É o melhor repentista
Com certeza absoluta
Nos lugares onde passou
Teve respeito e conduta
Bendita seja sua mãe
Dar luz a essa ideia enxuta
Do perigo não me salve
Comparo igual a uma árvore
Que todo tempo dá fruta

Gildo de Freitas é bananeira
Que vai morrer dando cacho
É fogo de lenha grossa
Faz ferver o angu no tacho
A sua memória é um tampo
Pra mamadeira de guacho
Humilde de sangue nos olhos
E já deu prova de macho
Ninguém me venceu na rima
Deus é quem manda lá em cima
E na trova é o Freitas aqui em baixo

Só a pessoa ignorante
Ao Gildo não dá valor
Já está sentado no trono
Comandando os trovadores
Com sua idade avançada
Sessenta anos de flor
Dêem a mão a palmatória
Peçam receita ao doutor
Campeão nas cantorias
Formado em academia
Do sofrimento e rigor

Sua ideia é uma vertente
De igual whiskyada não seca
O mundo foi sua escola
Cresceu levado da breca
Dos oito criou cinco filhos
O Jorge, o Paulo e o Zéca,
o Ginéco que é o casula,
A Neusa, sua boneca
Eu respeito a tua patroa
Trovando ganhou a coroa
Com a força das tuas munhecas

Meu abraço ao Gildo de Freitas
Sua esposa dona Carminha
E a todos os seus fãs
Por este Brasil afora

Francisco Vargas - Grosserias da Fronteira

Grosserias da Fronteira

Sábado de tardezinha me bandeei lá pro açude
Me lavei, fiz o que pude, "inté" ralei os calcanhar -
Tomei um trago da buenacha Três Fazenda,
Gostosa como uma prenda dos velhos tempos de piá.
Vou pegar a china e fazer levantar a poeira
Quero iniciar este fandango com milonga, xote e rancheira!

Mas quem não gosta de manquejar uma vaneira
Ver esse taura cantando grosserias da fronteira.
Mas quem não gosta de manquejar uma vaneira
Ver esse taura cantando milonga, xote e rancheira!

Passei azeite de mocotó nas melenas
E sai tinindo as chilenas lá pro fundo da invernada
A trotezito pro rincão fui me cambiando
Parei, fiquei escutando lá no tope da chapada.
Ouvi o choro da velha gaita manheira
E a indiada sapateando fazendo levantar poeira!

Paguei entrada e dancei que fiquei babado
Num canto eu fiquei parado junto com tocador -
E o gaiteiro já estava de pulso inchado
De fazer roncar a cordeona quem nem peludo enfurnado.
Sua voz pifou de tanto comer poeira
Mas comandava por senha o manquejar da vaneira.

Era sol alto e nós dançado a chilena
Já estava de venta preta do lampião de querosene
E as pinguanchas amanheceram amarrotadas
Com a cara toda encarvoada que as brancas ficaram morena.
Vou pegar uma pra fazer levantar poeira
E encerrar este fandango com milonga, xote e rancheira.

Francisco Vargas - Fracassar Pra Que?

Fracassar Pra Que?

Amigo velho levanta a cabeça
Tu não esquece que tem que vencer
Aquela china que te fez traição
Vai chegar o dia dela padecer
Eu sinto pena do teu coração
Levou uma vida inteira a sofrer
Aquela falsa não tem qualidade
Tu saber bem que tudo é realidade
Mais um gaúcho fracassar pra que?

Esse conselho to dando a mim mesmo
Andei a esmo sem me resolver
Agora eu tenho uma chinoca linda
Os seus carinhos me fez te esquecer
Eu só não puder esquecer ainda
A tua maldade que não posso crer
De ti ingrata eu não sinto saudade
Agora vi que tudo é realidade
Mas um gaúcho fracassar pra que?

Eu tentei muito pra nós ser feliz
Mas tu não quis me compreender
Aquela noite que nós dois fugimos
Eu me arrisquei matar ou morrer.
Depois daquilo que não mais nos vivemos
Arranjou outro o que, que eu vou fazer
Só peço a deus de ti ter piedade
Eu me conformo com a realidade
Mas um gaúcho fracassar pra que?

Estou morando lá no pé da serra
Na linda terra que me viu crescer
Meu rancho é humilde, mas não falta nada
E o que eu ganho dá pros dois viver.
Já sosseguei e até não estranho
Deixei da farra e nem quero beber
Voltei de novo pra sociedade
Graças a deus tudo é realidade
Gaúcho amigo fracassar pra que?

Francisco Vargas - Engenheiro Sem Diploma

Engenheiro Sem Diploma

Eu quero saudar cantando o maior dos carpinteiros
Que fez este mundo inteiro com tamanha perfeição
Sem serrote, sem facão, imaginava e fazia
Em menos de oito dias teve pronta a construção.

Fez o sol, fez a lua, o céu, a água e a terra
Metas, planícies e serras á planta da mesma obra
Material tinha de sobra sem gastar nenhum tostão
Fez a Eva , fez Adão, maçã, paraíso e cobra.

Fez o mar, fez o rio, o clima, as nuvens e o vento
Criou o dez mandamentos e as estrelas do infinito
Fez colorido e bonito sem precisar de pintor
Pra espanto dos escultores só trabalhava solito.

Fez chover quarenta dias , fez arca e o Noé
E um povo cheio de fé, abençoou o papa em Roma
Criou todos os idiomas na terra semeou o amor
E o nosso criador o engenheiro sem diploma.

Francisco Vargas - Dando A Mão Pra Mulherada

Dando A Mão Pra Mulherada

O maxixe de antigamente virou e mexeu em lambada
E hoje a nossa juventude recorda as eras passadas
Tem machista reclamando que essa dança é afrescalhada
E as mulheres mostram as calcinhas e a censura não faz nada.
Eu sou grosso e acho lindo e manjo desse piazada
Que reboleiam em sabugo inté altas madrugada...
E durma com esse barulho,
Sou muito macho e me orgulho dando a mão pra mulherada!

E tem chifrudo reclamando que as mulheres são espertas
Nós mulheres nascemos com a felicidade aberta
E as mulheres estão com tudo os homens não tão com nada
Pois o tal homem nasceu com a desgraça dependurada.

Os antigos diz que as mulheres foi que inventaram a lambada
Maxixando em cabarés, em bailes de cola atada
O que vi do bicho mulher eu não duvido mais nada,
Tem mulher caminhoneira e é a rainha da estrada
Tem mulheres taxisistas, mulher que estão na brigada
Tem mulheres inspetoras , tem mulheres delegadas;
E durmam com esse barulho,
Sou muito macho e me orgulho dando a mão pra mulherada!

Foi da costela de um homem que uma mulher foi gerada
Desde o princípio do mundo elas foram escravizada,
O marido tratava a esposa como fosse uma empregada,
E graça a lei feminista que a mulher foi libertada.
Hoje tem mulher Prefeita, Ministras e Deputada
Senhoras Doutoras Juiza condenam um homem sentada
E durma com esse barulho,
Sou muito macho e me orgulho dando a mão pra mulherada!

Viva a Xuxa brasileira, rainha da garotada
Salve a Princesa Isabel em nome da crioulada;
Grande Anita Garibaldi foi pro museu sua espada
Cabo Toco e a Mariana, na briga foram afamada,
Ou a tal de Zeca Cuiuda num facão foi respeitada,
Índios metidos a valente ela babou de lambada,
E durma com esse barulho,
Sou muito macho e me orgulho dando a mão pra mulherada!

Francisco Vargas - Cuiudo do Alegrete

Cuiudo do Alegrete

Pode até alguém me chamar de bagaceira ou vagabundo
Que a fama do meu cuiudo se espalhou em poucos segundos
Pra agarrar cria com ele vem água de passo Fundo
Vem égua lá de Laguna terra de Pedro Raimundo.
Viajando muitas léguas
Já começou chegar égua de toda parte do mundo.

Pra amansar essa eguada não precisa de ginete;
Basta apenas um relincho do cuiudo do Alegrete.

Meu cuiudo ta ocupado por cento e oitenta dias
Ta virado só em sabugo, cabeça, apta e viria
Pra agarrar cria com ele vem água de vacaria
Vem égua de Santo Ângelo, vem égua de Santa Maria
Para fazer injustiça
Trouxeram até um petiça do gaiteiro Tio Bilia.

Pra amansar essa eguada não precisa de ginete;
Basta apenas um relincho do cuiudo do Alegrete.

Meu cuiudo é caborteiro tem o olho de serpente
E neto do Dom Tranquito que existia antigamente
Lá por Julio de Castilho deve ter algum parante
Pra agarrar cria com ele vem água de São Vicente
E o Fabio Rocha Forfula
Me mandou até umas mulas da terra dos presidentes.

Pra amansar essa eguada não precisa de ginete;
Basta apenas um relincho do cuiudo do Alegrete.

Meu cuiudo é puro sangue tem levando muita estafa
Tratado a milho quebrado , sorgo, amendoim e alfafa
Quando enxerga uma potranca já atira a sua tarafa,
Ta recebendo proposta de zebra, camela e girafa
Povo bem e macanudo
Compra o disco do cuiudo, Francisco Vargas autografa.

Era só égua pulando, largando mil foguetes
Contente de agarrar cria do cuiudo do alegrete.

Francisco Vargas - Coice no Saco

Coice no Saco

Uma china velha mutreta andou batendo as canjicas
Que eu andava de retosso com a crioula Frederica -
Por causa de uma lambança quase um homem se complica
Eu vivo com uma baixinha que apelidei de nanica
Cria lá de Catuçaba, da raça brava dos Bica.
Bem na hora do almoço
Se jogou no meu pescoço igual uma jaguatirica.

Encrenquei com a mulher velha
Foi pior que briga de foice
Murchou as duas orelhas
E quase me capa num coice.

Caiu um oitão do rancho e nós peleando enfurecido
E ela saltou pro terreiro, já deu um nó no vestido -
Me sentou uma marca touro, vinha em rumo ao meu ouvido
E se eu não caísse fora em dois tinha me partido.
Por causa do tal fuxico, veja o quanto eu tenho sofrido,
Com essa mulher endiabrada
Louca das ventas rasgadas que não respeita o marido.

Meus tarecos eu reparti com a chinaredo da vila
E agarrei as rédeas do mundo e no bolso sem nenhum pila
Todo o taura corajoso na estrada arruma a mochila
E o amor desencontrado, quando não mata, aniquila.
Longe desta cascavel levo uma vida tranqüila
Foi e não me arrependi
Só Deus sabe o que eu sofri nas unhas dessa gorila.

Quanto aos corcóvios da vida tem que ser macho e ginete
Morar no olho da rua quem já teve palacete -
Saí alumiando o sabugo, no rabo trinta foguetes
Já anda encostando a cerca quem quis puxar meu tapete.
Arrependida e chorando, manda recado e bilhete
Comenta que ainda me ama
Sente saudade da cama do cuiudo do Alegrete.

Francisco Vargas - Coice e Relincho

Coice e Relincho

Não me provoca chinoca eu sou bacudo mas te lancho
E neste fandango cuiudo vim pra dançar de carancho
Já cheguei com os corno azedo, um malandro fez um gancho
E os pilas eu perdi no jogo
Facilita taco fogo no pé da quincha do rancho.

Ah, eu entro e danço de espora
Ou acabo com este buchincho -
Sou cuiudo do Alegrete
Comigo é coice e relincho.

Já minha adaga te estraga e não me venha pedir trégua
E qualquer lasca de lenha eu hoje faço uma régua -
Pra dançar com esta pinguancha, viajei quatorze léguas
E não puxe o meu tapete
Sou cuiudo do Alegrete, já nasci correndo égua.

E a solteirona gaviona lá do garrão da fronteira
A bicha é solta no facão e no cabo duma vaneira -
Careca, renga e banguela, muita plata na algibeira
Nome engraçado Sofia
Eu quero ela pra cria, eu não quero pra carreira.

Falando da neta da Mariana, filha da velha Raimunda,
E desde a primeira encilha de guasca, dei-lhe uma tunda
Já se acostumou com os arreios, do peso ficou corcunda
Não tem rabo a capivara
Que é dessas feia de cara mas muito linda de bunda.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Valdomiro Maicá - Gaita e Guitarra

Gaita e Guitarra

Gaita e guitarra
Tranco de bombo leguero
E um verso bem missioneiro
na goela dum desbocado
Buchincho chucro aporreado
Com cheiro e gosto de pampa
Um bate-bate de guampa
Que fede a chifre queimado.

Se não for macho
Chega na porta e dá volta
O porteiro é um aspa torta
Com fama de ser gancheiro
Até lhe falta um candeeiro
Do coice de um marca touro
Por ter dito uns desaforo
Pra um pavena missioneiro

O chinaredo
que nunca floxa o garrão
Veiaquieia no salão
Que nem cutia baleada
Tudo de cara pintada
E um extrato feito em casa
Pra espantar o fedor da asa
Clina comprida e trançada.

Que coisa linda
Lá pro fim da madrugada
A cordeona debochada
Nas munhecas do gaiteiro
Lá no terreiro
A cavalhada relincha
E o sol espia na quincha
O surungo missioneiro.

Valdomiro Maicá - De sapucay e chamamé

De sapucay e chamamé

A minha voz salta da alma
Num eco que lá se vai
Destilando encantos costeiros
No coice dum sapucay.

A cordeona entra em cio
Parece que é e não é
Se engravida de lonjuras
Pra parir um chamamé.

Sapucais trazendo encantos
Ventos em loucos bramidos
No rancho de chão batido
Coberto de Santa Fé
Um timbre chamamecero
Entre glosas e cantares
Espalha na anca dos ares
Sapucai e chamamé.

Na gaita se houve o murmúrio
Das enchentes do Uruguai
E a lua adormece ouvindo
Chamamé e Sapucai

Uma estrela no alto pisca
Igual o lunar de sepé
E a noite pampa boceja
Sapucai e chamamé.

Valdomiro Maicá - A pavio de candeeiro

A pavio de candeeiro

De pilcha nova hoje eu to abagualado
E embodocado pra varar o rio Uruguai
Mandaram um chasque tem bailanta do outro lado
Quero chegar já largando um sapucay.

Gosto de toque de gaitinha de oito baixos
Mostrar o braço da velha estirpe campeira
Desde pequeno pra me aquieta nos seus braços
A minha mãe já me assobiava uma vanera.

Na polvadeira da tradição do rio grande
Se esquenta o sangue a pavio de candeeiro
E a indiada buena disposta a aumentar a sala
Leva no pala o atavismo missioneiro.

Pra quem carrega a madrugada na garupa
Com uma gaúcha doce mel de camuatim
Sabe que a alma se acolhera na percanta
E o ferro canta se alguém tocar no jasmim.

Eta surungo chucro pintor de auroras
Onde as horas vão no galope do vento
Nem bem termina vai batendo uma saudade
Com a vontade beliscando um sentimento.

Francisco Vargas - Cavalo Velho

Cavalo Velho

Eu vou lhes contar em versos o que ninguém se deu conta
Pra que entre de ponta a ponta na alma de quem compreende
Principalmente os que vendem depois de velho cansado
Sangrando o lombo pisado daquele que lhe defende.

Eu me refiro ao cavalo que neste mundo moderno
Depois de velho invernam pra vender pro saladeiro
A ambição por dinheiro faz com que a alma apodreça
E o sentimento escureça traindo o fiel companheiro.

Falo eu, por que aqui esmo um carroceiro vizinho
Criou cinco ou seis negrinhos no lombo de um alazão
Puxando inverno e verão tijolo, pedra e areia
Nunca comeu uma aveia, só dava-lhe sal por ração

Os anos foram passando algo que tudo consome
De fraqueza, miséria e fome transformou-se em carcaça
E não é que por desgraça um circo de diversão
Com tigre, pantera e leão se instalou ali na praça.

Na frente tinha uma placa e escrito em letra a mão
Cavalo, burro e cão se compra e paga no ato -
Não é que aquele mulato mais fera que o próprio leão
Vendeu o pobre alazão por um mil, aquele ingrato.

Hoje eu vejo lá na rua se apoiando num bastão
Já velho sem ilusão, cansado sem serventia
Lembrando da covardia, do seu gesto desumano
Por trair quem tantos anos lhe deu o pão de cada dia.

Mano Lima - Baixinha e Queridinha

Baixinha e Queridinha

Ela é baixinha, moreninha e bonitinha
É a coisa mais queridinha que se pode imaginar
Os zóio dela inté parece pega-pega
A flor roubada não nega essa florzinha eu vou roubar
Já me disseram que o pai dela é caborteiro
No ferro branco é ligeiro e não gosta de covardia
Mas eu também não sou dos mais assustado
Vou buscá ela de á cavalo em ponto de meio-dia
(Tudo que é meu é teu também linda morena
Desde este par de chilena que ganhei quando piá
Que vai cantando pelo teu nome chamando
Parece que adivinhando que vou indo te buscar

Mano Lima - Ave Maria

Ave Maria

"Boto minha lama de joelho pra cantar esta canção
Levo a mão no sombreiro e atiro um beijo bem pra cima
E peço a benção divina à todos os Santos e Santas
Que abençoe este troveiro e que perdoe minha ignorância."

Sou um homem de canto triste que canta pra não chorar
Talvez ninguém acredite na razão de meu cantar
Quando um pássaro canta entre o céu e o capim
Quando abro minha garganta minhas penas cantam assim
(Ave Maria rogai por mim, Ave Maria rogai por mim
Ave Maria rogai por mim se vai meu canto entre o céu e o capim)

"Brotei da carne do campo pra cantar paz e amor
Senhor abençoai meu canto eu te peço por favor
Pra que meu versos consiga ter luz e felicidade
E neste resto de vida não cante mais a saudade."

Mano Lima - Arrotando Grama Boiadeira

Arrotando Grama Boiadeira

"Me criei a campo fora saltando de madrugada,
Comengo mogango com leite e a carne gorda mal assada,
E abrindo meu peito forte nos dia de gineteada."

Fui parido numa mangueira de pura pedra e assentada
Minha mãe quando me teve ficou inté assustada
Não sabia se era gente ou cuiudo pra manada
José Rotilho Lima se chamava meu avô
Ele dizia este meu neto é quem vai doma essas éguas
É indiáto novo e disposto e pra loco não falta nada
E é pegado no lombilho, só apeia pra tomar água
Quando era rapazote a recém soltando os curnio
Meu pai me disse meu filho abandona um pouco o lombilho
Já falei com a professora pra ela te redemoniá
Nem que seja assinar o nome bem bom tu não vai ficar

No outro dia bem cedo, as quatro da madrugada
O fiambre já estava pronto, uma cabeça de ovelha assada
E eu larguei frouxo nas aula no meio da gurizada
Dona Iza professora que me ensinou o abecê
Quando foi dali um ano pra meu pai eu fui dizer
Na aula eu não vou mais volto pra estância domar
Porque as letras eu já aprendi só me falta acuierá

Mano Lima - Armas de uma campeiro

Armas de uma campeiro

Vem vindo uma tropa linda, pouco pra lá da estação
E o capataz é o Ari, que já me pediu uma mão
E eu me ''alembrei'' de ti, que conhece os marca viola
Porque ao cruzar na estação, me agrada que a tropa estoura

Quando se chama um amigo, não precisa chamar o outro
Já saio junto contigo, é só me esperar um pouco
Meu cavalo tá na estaca, e eu já tô com o pé no estribo
Quando se chama um amigo, não precisa chamar o outro

Dom Emílio foi que trouxe, das tribo de M'bororé
Umas tropilha de mouro, pra mim não andar de a pé
A baieta é colorada, mas o meu poncho é azul
Nas patas da minha eguada, vem a América do Sul.

Mano Lima - Anemia Fequeciosa

Anemia Fequeciosa

Já bateu o urucubaca
Na cavaliada do rio grande
Já bateu o urucubaca
Na cavaliada do rio grande
Se escapão do salame
cae na anemia fequeciosa
Se escapão do salame
cae na anemia fequeciosa
Rio grande de 35
Rio grande de 23
Rio grande de 32
Rio grande de 93
Todas essas batalhas
Foram feita no teu lombo
Com amor e muita garra
Deste nome a esta terra
E hoje vejo o terruero
Na tripa de mortadela
Já bateu o urucubaca
Na cavaliada do rio grande
Já bateu o urucubaca
Na cavaliada do rio grande
Se escapão do salame
cae na anemia fequeciosa
Se escapão do salame
cae na anemia fequeciosa
Fui vender uma cavaliada
Que por amor tinha demais
Fui vender uma cavaliada
Que por amor tinha demais
Me apareceu um tropero
Um tal joão de xirual
Chego e me pergunto
Que peso será que dá
Corri as varas a manguera
E dissi: "eu vo larga!"
Domei meus pingo a capricho
Não pode ser pra matar
Já bateu o urucubaca
Na cavaliada do rio grande
Já bateu o urucubaca
Na cavaliada do rio grande
Se escapão do salame
cae na anemia fequeciosa
Se escapão do salame
cae na anemia fequeciosa
Se escapão do salame
cae na anemia fequeciosa

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Mano Lima - América do Sul

América do Sul

Composição : Mano Lima

Vou falar sobre cavalo de raça, pêlo também
De manso xucro e domado, de todos que eu já enciei


Toda a pelagem é linda desde que seja cuidada
A melhor raça é aquela que dá bem mansa e domada
E o melhor reprodutor é o que endereita a manada


Pra conserva o pelo fino eu posso lhe aconseiá
A minguante de janeiro meiór lua pra castrá
A pra que seu parelheiro com paia de girivá


No crioulo tem lubuno, gateado, mouro e rusio
Também tem o tubiano, são os pelos primitivo
Neles eu vejo a América embaixo do meu lumbio

Mano Lima - À Galope Contra o Vento

À Galope Contra o Vento

Composição : Mano Lima

De onde vem pra donde vai
Me diga quem é o senhor
Venho daqui e vou pra lá
Não pergunte por favor

Meu ofício é andar no mundo
A galope contra o vento
Tirando touro a trompada
E égua xucra no tento

Quem conhece um domador
Não precisa perguntar
Quem não conhece senhor
Só vendo pra acreditar

Se tiver égua aporreada
Por favor mande voltiar
Que amanhã de madrugada
Eu quero me apresentar

Desde que eu vim pra esse mundo
Meu destino foi traçado
De andar nos galpões de estância
Neste meu Rio Grande amado

Se eu cair de algum matungo
Deixo os arreio emalado
Entrego pra cozinheira
E levo a vida embarcado