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quinta-feira, 9 de junho de 2011

Cenair Maicá - Balaio, Lança e Taquara

Balaio, Lança e Taquara

Caminham guaranis pelas estradas
Trapos de gente se arrastando a pé
Restos da raça dos meus sete povos
Últimas crias do sangue de Sepé.
Fazem balaios de taquaras bravas
Em pobres ranchos que parecem ninhos
Onde se abrigam aves migratórias
A mendigar alguns mil réis pelos caminhos.

O balaio foi taquara, a taquara foi a lança
O balaio foi taquara, a taquara foi a lança,
Que esteiou os sete povos quando o pago era criança
Vão os índios pela estrada como aguapé pelos rios
Cantam ventos tristes nos seus balaios vazios,
Cantam ventos tristes nos seus balaios vazios.

Seguem os índios o destino peregrinos dos sem terras
Tropeçando nos caminhos já sem luz
Afogados na fumaça do progresso
Junto aos animais em debandada.
Das florestas virgens violentadas
Pelos que vieram pelos que vieram sob o símbolo da cruz.

Quem os vê na humildade dos perdidos
Na senda amarga desses tempos novos
Não acredita que seu braço um dia
Levantou catedrais nos 7 povos
Vende balaio o índio que plantava
Um novo mundo no império das missões
Balaios de taquara que eram lanças
Marcando a história das 7 reduções.


Cenair Maicá - Baile do Sapucay

Baile do Sapucay

Neste compasso da gaita do sapucay
Se bailava a noite inteira lá na costa do Uruguai
Luz de candeeiro e o cheiro da polvadeira
Hermanava castelhanos e brasileiros na fronteira

Choram as primas no compasso do bordão
E o guitarreiro canta toda a inspiração
E a cordeona num soluço refrexando
Marca o compasso do posteiro sapateando

Neste compasso da gaita do sapucay
Se arrastava alpargatas lá na costa do Uruguai
Chinas faceiras de um jeito provocador
Vão sarandeando, é um convite para o amor
levanta a poeira do sarandeio da china
Recendendo a querosene com cheiro de brilhantina

Neste compasso da gaita do sapucay
O mandico se alegrava lá na costa do Uruguai
Até a guarda costeira se esqueceu do contrabando
E o sapucay chegava a tocar babando
E a gaita velha da baba do sapucay
Chegou apodrecer o fole neste faz que vai não vai

São duas pátrias festejando nesta dança
Repartindo a mesma herança, comungando a mesma rima
Disse o Sindinho que o Uruguai deixa os nubentes
Une o casal continente, pai Brasil mãe Argentina
E disse o poeta que o lendário rio corrente
Une o casal continente, pai Brasil mãe Argentina

Francisco Vargas - Sinto Orgulho de Ser Grosso

Sinto Orgulho de Ser Grosso

Não como gato por lebre, não danço marcha por xote
Já deixei de ser boi manso só pra não pisar o cogote
De louco só tenho o gesto, de burro só tenho o trote
Tem mulher igual a cobra sempre pronta pra dar o bote
Não me casei sou amassiado
Também não fui batizado pelas mãos do sacerdote.

O mundo foi minha escola só nuca li o catecismo
Mas desenho a terra em rima nos versos do repentismo
Tem muito gaúcho gay, falando em regionalismo
De brinco, bombacha e tênis, criticando o nativismo
De brabo estou me mordendo
De roqueiros destorcendo nosso puro bagualismo.

Eu já fui apelidado macho da caranca feia
E nunca fui acertado por égua que se boleia
Matungo que nega estribo, sento o mango na orelha
Me escondo atrás do facão na cabo de uma peleia
Já rolei que nem cigano
Três ou quatro brigadiano não me levam pra cadeia.

Com minhas armas na mão com meia dúzia eu retoco
E já dei talho de palmo de ficar alumiando os osso
Reconheço que sou grosso, as palavras do Gildo endosso
Nativista e sertanejo metendo a mão no que é nosso
Artista nenhum invejo
E quando mais me farquejo, ai é que mais eu engrosso.